domingo, 10 de outubro de 2010

"Leitura"

"Era uma quintal ensombrado, murado alto de pedras. As macieiras tinham maçãs temporãs, a casca vermelha de escuríssimo vinho, o gosto caprichado das coisas fora do seu tempo desejadas.
Ao logo do muro eram talhas de barro.
Eu comia maçãs, bebia a melhor água, sabendo que lá fora o mundo havia parado de calor.
depois encontrei meu pai, que me fez festa e não estava doente e nem tinha morrido, por isso ria , os lábios de novo e a cara circulados de sangue, caçava o que fazer pra gastar sua alegria: onde está meu formão, minha vara de pescar, cadê minha binga, meu vidro de café?
Eu sempre sonho que nada está morto.
O que não parece vivo, aduba.
O que parece estático, espera."
(Adélia Prado)

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